quarta-feira, janeiro 31, 2007

Carta a Deus I

Não tenho mais joelhos
que arquem com as conseqüências de cair.
Minhas mãos se gastaram
nas poeiras, nos devios, nas pancadas
dadas, defendidas, sentidas.
Meus olhos se fecham
como sempre se fecharam:
entendem.
Meu pedido
se perdeu.
Sobrou... o que sobrou?
A sombra mesmo se foi
embora
tenha deixado um pulso, uma pulsação,
o ar saiu dos pulmões,
que saíram, simplesmente abstraídos
como se nunca houvessem.
Resta uma posição, um feixe
não se sabe do quê.
O olho olha, mesmo não estando.
Para dentro, olha para cima.
De cima, Senhor, me olhas do centro
do dentro de tudo.
Não consegui sobrar nada.
Nem corpo, nem vontade, nem luz, nem maldade.
Sobrou um sopro,
um ritmo desmembrado, não perdido.
Sem joelhos, me ajoelho.
Sem luz, oro.

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