quinta-feira, dezembro 28, 2006

chão de água

a vida é uma solução aquosa,
não diga que não avisei.

não diga que não te disse,
não diga que não dancei.

não me dizes, não te digo.
nos falamos, mesmo assim.

com rima, ritmo, aliteração.
voz, vento, fúria, num compasso.

a maré desliza, líquida, fluente
falante da maré de dentro, lânguida

lambida em milhas e sonhos,
sons e olhos, vida é óleo

deixado escapar dos dedos,
nos dedos fica, desliza

acaricia a mão que esteriliza.
a vida dói, machuca,

mesmo que calada, mas é parte
tudo de uma grande chuva

do outro lado de onde estás:
a vida se soluciona em água,

em lágrima, mar, em baba
esperma e muco, refrigerante

e também outro oceano, vago,
onde amamos nos corais:

a vida é música. nessa vaga
te beijei, me beijaste, dividimos

a pangéia e nos olhamos.
e entre oceanos nos queremos,

o coração é água, saibamos
navegar, a tempestade ainda está.

no mar, o fundo e o raso.
outro dia o horizonte nos traz.

terça-feira, dezembro 26, 2006

orfeu

todos os dias seriam assim
casa e chuva, casa e sol
todos dormindo no sofá da sala
com pequenos gestos de amar

flitrado pelos olhos, o sol
na lente do teu óculos me atinge.
hoje foi festa e amanhã é triste
e os dias são melhores quando vêm.

qual é o segredo do pequeno gato
preto como não saber
avesso ao raio de sol
conta na preguiça a mãe de fogo

hoje eu tive uma conversa sincera
está tão raro tê-las, te amo a cada instante
mesmo quando a gente briga
mesmo que me esqueças

eu vou caminhar no sol falso
do palco, que a gente presta mais atenção
depois, na verdade, vou sair pra rua
e vou cantar tua voz

e vou dizer que te amo te amo te amo
e também vou mentir, dizendo que não
mas só por um pouquinho de paz
que amanhã é outro dia então.