segunda-feira, novembro 27, 2006

chuva

pingo
rápido
como silvo
despercebido
parecido ao silvo
caído na calçada
se esvai na madrugada
até a esquina.
quem o tenha chorado
esqueceu-se.
quem o tenha vivido
não se sabe.
unido à chuva
é de novo sorriso
em outra boca.
gota de orvalho
de sonho
gota de sono
espera a fome
passar.

Pequenas palavras para gabriela

Gabriela querida,
eu pequeno pedaço de chão,
agradeço a pequena voz que acalenta
a saudade irmã das coisas, do bem e da vida.

Os passos de gigantes
eu não conheço. Sou homem
da vida dos pássaros e dos mistérios
da casa e do céu. Amo Deus nas flores

que nascem dos teus cabelos
quase que parecendo pretos de saudade,
tão ígnea é a memória, tão fundo o amor bonito;
o amor tudo muda em flores. Ela sabe disso e me cansa.

Amar, querida Gabi,
deve ser passo, ainda que dor.
Quando ando, desconheço a farpa
cravada no tendão do olhar, e prossigo

sem parar, que a vida
dói quando parada. A vida
é nossa muda expressão de um sorriso
ainda que a cabeça baixe, pra não ser sentida.

segunda-feira, novembro 20, 2006

felicidade é coisa que flutua
à pressa, presa no pé
do vento que escapa.

tentaram no pós-moderno
volver a outros nós como possível
fosse outro ar o ar respirar.

no fim do espelho, o olho
se olha. só isso, nada além.
espelho é superfície.

felicidade é coisa que se despe
vestida que vem de desespero.
vem de amar torto e tão grande

vem de menino perdido e feliz.
não sei oque fazer pra te amar
direito, pois não sei o toque

que precisas de mim, se é que.
insiste o olhar, no mesmo assim.
a vida vem e apoquenta, mesmo assim.

dor dói, mesmo assim, e não devia.
acho que vou mandar parar a vida.
é isso. chega. vai-te embora. por todo agora.

chega de dor, e é por decreto.
e se não der certo?
e se as cortinas pegarem fogo?

e se? mas agora é deveras.
agora caminhas pleno palco.
agoras o coração inunda

de certa luz, correta carne e fogo.
vida, eu que te esgano, nunca vou te enganar.
vens e me beijas, queres me matar.

mas não irás. eu te beijo, eu te amo
não me consomes. da flor caída
outra flor doída e doia voa.