quinta-feira, outubro 26, 2006

descoberta

como se descobrisse, súbito, o ar,
o susto me tomou de súbito pro mar.
ali, descobri um erro, e dos medos
vi o acerto acerbo e certos erros

que seriam de amar, mas não sei.
não sei mais onde a estrada leva.
talvez onde todos já soubessem,
onde só o fim da estrada espera.

descobri o falho ato de viver e frágil,
pequeno passarinho sem roteiro e nu.
nós andamos, a corrente, nós fazemos

mas o fim chega quando queremos,
depois dele outro limite, e mais depois.
no fim, é sem. caminho é mundo.

segunda-feira, outubro 23, 2006

se você tiver o cuidado
de andar na rua
acima do mar de sonhos
meio crus que nos circula

e tiver os olhos calmos
por segundo ou meia tarde
se olhar, souber a parte
mais escura dos percalços

e sentir no fundo peito
do dia o ar preciso
no peito em cada necessário
se você ficar quieta

e pisar com calma pelo chão
lembrando o quanto ele se lembra
o quanto passa o quanto fica
feito poeira na retina

imaginada como amor de ar
amado e repirado em lar
em que a poeira volta mas
de estrelas sua casa se constrói

se você parar quieta, talvez
venha a me escutar.
se me escutares, beije
este ar que fica em frente

esperando ser beijado
que tão pouco nos doamos
e tão pouco somo frágeis
apenas de nós dependendo

deixar de ser estrela pra bilhar,
na rua, em casa, no chão da biblioteca
sinta-me, te toco, te amo, me engoles
esperança e mar, vida leva

serás beijo, serás lua, serás
ar. cantiga que dança no futuro
eu, que não te sei, sei que te será.
salto e festa a lua no mar alto.

(23 de outubro, escorpião)

quarta-feira, outubro 18, 2006

Passo

e mar
andar
e dar
doar
e ar
de ar
ar
am
ar
am
ar
am
o
Coração oco

a qualidade de flauta
de som e tropeço
peço à fala que fala
em cada começo.

eu, que não sou voz,
que não falo nem calo
nem por nós
me despeço ou resvalo.

no fim, começo.
no meio, o fundo
vento pânico do mundo.

nas bordas, cor e falso.
no fundo, miragem
onde toda coragem...

(18 de outubro, 2006, 9:41 h)

segunda-feira, outubro 16, 2006

nota de flauta
coração
dente como
vente
colado
à parede
de
encontro
à rede
nota de flauta
longa
toda
cabelos
entra
port
adentro
emp
urra
a
braço
nada
braça
contra
braça
notas longas
lenta
pela sala
no caminho
vão

(16 de outubro, 9:54 hs, aniversário de oscar wilde)
Poiesis

palavra.
coisa pouca. terra árida.
espaço que se cria mesmo
quando não se quer.

palavra.
perdição entre silêncios.
o que foi perdido
do que foi deixado

e no silêncio fita,
lavra.
palavra.
não o que cava,

mas o que fica,
mão que estica,
que se esgarça
perna e parte.

pó. palavra.
mós que não produzem nó.
nem que fosse dor
nem se fosse mor.

longe e
perto e supreen
dente, larga
do rio convulso

inclemente.
fundo.
rio do mundo.
amor.

(16 de outubro, 2006, 9:41 hs)